domingo, 7 de março de 2010

"Para bem julgar não basta sempre ver, é necessário olhar; nem basta ouvir, é conveniente escutar." (Marquês de Maricá)



Tenho uma doença, luto contra ela desde sempre. Tenho transtorno depressivo recorrente genético, tenho episódios depressivos que podem aparecer a cada mês, a cada ano ou levar dez anos pra voltar a me atingir. Não porque desejo ou porque não tenho forças contra minha própria mente, isso nunca me foi conveniente. Não porque deixo de ter esperança. Já quase enlouqueci minha família no último episódio, mas, nunca deixei de lutar. Talvez parecesse pouco pra quem observava, mas, pra mim, eu estava dando toda a força que eu tinha, porque os episódios de depressão nunca fizeram com que eu pudesse parar de lutar, porque eu não sabia ficar sem lutar, eu tinha metas maiores, e a primeira era me formar médica, essa era a minha vida, minha paixão. Esse transtorno não é o que todo mundo vê como tristeza, melancolia, desânimo ou fraqueza. É uma desordem psiquiátrica que, no meu caso, é uma herança familiar, causada por fatores endógenos, muitas vezes desencadeados pela fadiga mental. Não é a desculpa que dão pra falta de motivação, apatia, preguiça, irresponsabilidade ou a “doença da moda”, como muitos acreditam. E também não é a depressão mais conhecida, que muitos sofrem após um episódio traumático ou doloroso que as fazem perder o sentido da vida, mas passa com o tempo. É uma doença que precisa de tratamento médico, porque gera um desequilíbrio emocional e também físico, como qualquer outra patologia, e volta quando você menos espera. Tudo isso se deve a um mal funcionamento cerebral que responde com alterações no humor. Muitos vêem como fraqueza o que exige uma força imensa, diária, pra não se deixar levar pelo descontrole, pelo mal estar físico e pela falta de energia que faz querer se entregar. Preciso de medicação, como um cardiopatia ou um diabético. Não sou triste, infeliz ou insatisfeita, amo a minha vida, quero continuar a crescer, conquistar, só que em alguns momentos perco o controle sobre minhas emoções e sou fisicamente afetada por elas, com insônia, falta de apetite, perda do raciocínio lógico, mialgia generalizada e uma dor constante no peito. Emocionalmente, não fico sempre apática, na maioria das vezes isso me faz agressiva, me causa irritabilidade e ira.
Julgar a depressão como “falta de Deus” é a mais pura ignorância. É uma patologia que se percebe desde a infância e por isso existem profissionais capacitados pra diagnosticar e tratar. Deus é o Senhor da minha vida, foi Ele que me capacitou a conquistar tudo que sou hoje, mesmo nas fases mais difíceis. Deus pode sim curar qualquer enfermidade, mas até a cura que Deus faz em nossas vidas é um processo diário. Deus é o meu maior médico, Ele segura as minhas mãos pra que eu sempre continue em frente. Cresci, estudei, persisti três anos até passar no vestibular, me formei sem perder um ano, pegava trêm às cinco da manhã, dois ou três ônibus, pra ir aos lugares mais loucos estudar, saia do plantão direto pra aula, batalhei muito pra ter o que tenho hoje, trabalho muito e nunca tive medo do trabalho, pago as minhas contas em dia, lido com a responsabilidade da vida de outras pessoas em minhas mãos, me casei com o homem da minha vida, com quem eu me preocupo e não deixo sem cuidados, e ainda tenho muito pra fazer da minha história. Não gosto de ficar medicada, não gosto da dependência, não gosto de saber que o que está me fazendo bem naquele momento são os remédios, mas preciso, periodicamente. Preciso porque não gosto de ficar descontrolada, falar sem parar repetitivamente, não gosto não ter controle sobre a minha paciência, não gosto de me sentir apática ou desligada, não gosto de muitas vezes não suportar a mim mesma. Por isso, querendo ou não, sempre volto a procurar o meu médico.
Você precisa estar bem pra ser capaz de fazer bem aos outros. As pessoas não merecem o seu pior, merecem tudo de melhor que você tem pra dar. Você não pode deixar que as suas qualidades fiquem escondidas atrás de emoções desequilibradas. Você não pode deixar que sua profissão seja abalada, depois de tudo que você batalhou pra chegar lá. Não pode permitir que a vida passe sem que você consiga curtir a sua família, seus amigos. Você não pode perder a sua vida, o maior milagre de Deus e as tantas maravilhas que ela pode te dar como recompensa por você não ter deixado de lutar. Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional...

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