quinta-feira, 10 de junho de 2010

"Segura nas mãos de Deus e vai..."


Deus me deu uma grande lição de moral. Mais uma vez ele jogou minha prepotência aos meus pés. Ele me mostrou que nada depende de mim, que eu não sou nada, nem ninguém e que o poder é sempre Dele. Não adianta acharmos que nossa inteligênca está acima do poder de Deus, não adianta tentar driblar a vontade de Deus. Não somos nada sem Ele. Somos impotentes diante a vida, sem Ele. Mais uma vez, Deus me mostrou que se eu não me prostrar aos pés d'Ele, me diminuindo diante a sua misericórdia, eu estou impedindo que graças e bençãos aconteçam em minha vida. Eu não estarei permitindo que Deus manifeste o seu poder e a sua força em minha vida. Deus me calou, pra me mostrar que não adianta proclamar com a boca se eu não viver tudo isso com o meu coração.
No domingo de madrugada, eu perdi um bebê de apenas seis meses de idade, no meu plantão. Eu senti a última vez que seu coração bateu com as minhas mãos. Sei que sou uma boa pediatra, mesmo com pouco tempo de experiência, e fiz tudo que eu podia, suei sangue, fiquei quatro horas em pé em cima do bebê e ele não respondeu a nada, a nenhum medicamento. E quando fez parada cardio-respiratória, não respondeu a entubação nem ao desfrilador cardíaco, nada. Eu nunca tinha assinado um atestado de óbito e o fiz pela primeira vez...
Enquanto eu revirava o bebê de cabeça pra baixo, eu não tinha qualquer interferência dos pais, fato inédito em qualquer situação parecida. Eu apenas via os dois sentados em uma poltrona distante de nós, abraçados e em oração. Aquilo fazia meu coração querer cada vez mais que aquela criança sobrevivesse, e mesmo com todos os sinais de que isso não aconteceria, eu não conseguia parar de tentar. Às oito e dez da manhã, a equipe de enfermagem exausta insistia que eu parasse de tentar o impossível e eu declarei o óbito. Fui dar a notícia ao casal com o coração apertado. Os dois, com uma serenidade que eu nunca presenciei em minha vida, apenas me ouviam com lágrimas nos olhos. Quando terminei de dar a notícia, a mãe olhou nos meus olhos, me agradeceu por tudo que eu havia feito pra tentar salvar a filhinha dela, e se declarou confortada porque ela sentia no coração que a bebê passou com ela o tempo que foi necessário, o tempo que Deus permitiu... Ambos católicos, eles haviam acabado de voltar de uma visita a Catedral em Aparecida do Norte, onde a bebê começou a apresentar febre e até mesmo fez uma crise convulsiva, durante a celebração da missa, de onde os mesmos se retiraram e levaram a criança para atendimento no pronto socorro local.
Eu chorei como criança e abracei o casal como se eu fizesse parte daquela família, deixei de ser pediatra e me senti um ser humano miserável e sem fé nenhuma... Deus esteve comigo. Ele me conduziu como faz todos os dias, Ele não tinha me deixado de lado, mas aquela vida já não estava em minhas mãos, ela já estava nas mãos Dele e, hoje, com certeza, no colo do Pai.
Não adianta falar se as suas atitudes não confirmarem tuas palavras. Não adianta tentar mostrar Deus as pessoas se suas atitudes não fizerem isso. A palavra abre as portas, mas quem convida o outro a entrar é o exemplo. Fé sem ação não tem valor nenhum...nem em nossas vidas e muito menos na vida dos outros.
Se a sua boca está proclamando sem que o seu coração sinta de verdade o que você diz, você mesmo está criando as barreiras pra que a graça dEle aconteça. Se você, como eu, rezo, clamando a Deus sem tomar posse da resposta, estamos ambos impedindo a manifestação do poder de Deus em nossas vidas. Se entregamos nossa vida ao Senhor, sem estarmos dispostos a fazer a sua vontade, estamos sendo contraditórios. Se pedimos a Deus que mude a nossa vida, sem permitir renúncias, estamos enganando a nós mesmos. Quem acredita, age como esse casal, aceita o que tiver que ser, porque dentro do seu coração, consegue ver claramente a presença de Deus. Quem acredita, segura nas mãos de Deus e vai, mas vai mesmo...

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